MARION STRECKER
Contra o Facebook
Quanto mais amigos eu 'faço', mais me distancio das pessoas que são realmente importantes
Hoje
comecei um teste. Decidi experimentar ficar sem o Facebook no meu
celular. Se der certo, vou estender o experimento ao iPad e, quem sabe,
também ao computador.
Impetuosa,
botei o dedo sobre o ícone do aplicativo e esperei ele começar a
tremelicar, como é a regra no iPhone. Ele tremelicou. Respirei fundo e
apertei o pequeno xis, que simboliza o apagar. Veio o alerta: se apagar o
aplicativo, todos os dados serão apagados também.
Que
ameaça! Sei bem que não basta apagar o aplicativo para todos os dados
pessoais sumirem do Facebook. Isto requer outro tipo de iniciativa.
Então por que mentem? O Facebook vai dizer que é coisa da Apple. A Apple
pode responder que
trabalha com "padrões de mercado". E a gente que reclame nas redes
sociais!
Suponho
que esse tipo de ameaça seja apenas um dos maus hábitos da indústria de
aplicativos (ou "'éps", da abreviatura em inglês "apps", como os mais
pedantes se referem a "software" hoje em dia). Nessa indústria, o número
de "usuários" valoriza um negócio, ainda que os "usuários" sejam
"inativos", o que a empresa só vai informar se não tiver como ocultar.
Isto me lembra Rubens Ricupero, aquele ministro da Fazenda que, sem
saber que o sinal já estava aberto para antenas parabólicas, disse à TV
Globo: "O que é bom a gente fatura; o que é ruim, esconde-se!"
O
fato é que sumi com o aplicativo do Facebook. Senti uma sensação boa.
Aproveitei o
entusiasmo e apaguei também os aplicativos do LinkedIn, do Lulu (que
instalei para testar e achei simplesmente péssimo) e até do Viber (algo
entre o Skype e o WhatsApp). Combinei comigo mesma que vou observar o
que acontecerá com as minhas mãos da próxima vez que ficar à toa com o
telefone na mão. Será que vou tremer? Será que entrarei na App Store e
baixarei tudo de novo? Ou vou me esquecer aos poucos dessa mania de
ficar fazendo a ronda na internet, checando as atualizações das redes e
esperando reações a cada coisa que publico, nem sei bem por quê?
Sério
mesmo: o Facebook é a maior perda de tempo que conheci na vida. Quanto
mais amigos eu "faço", mais me distancio das pessoas que são realmente
importantes para mim. A fatalidade é que sempre perco informações de
quem me importa no meio da balbúrdia da multidão a que estou
conectada.
Quando
fiz essa observação outro dia, o engenheiro Luís Villani comentou que
eu havia descoberto o "segredo de Tostines". Evocava a memória de uma
velha propaganda de televisão, que explorou o seguinte mote: o biscoito
vende mais porque é fresquinho ou é fresquinho porque vende mais? O
Facebook é relevante porque estamos conectados a pessoas relevantes ou o
Facebook é medíocre porque nossos "amigos" são medíocres? Ou uma rede
social teria a capacidade de deixar as pessoas medíocres?
Será
que nós, brasileiros, parecemos tão "sociáveis" porque achamos rude não
aceitar "pedidos de amizade"? Será que supervalorizamos nossa imagem
"popular", por isso colecionamos conexões como se fossem figurinhas de
um álbum da
Copa? Vamos fazer o quê? Começar de novo? E por que não?
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