quinta-feira, 1 de março de 2012

PREFEITURA DE PARAÍBA DO SUL DISTRIBUI CARTILHA QUE ENSINA A USAR DROGAS

Secretário de Saúde de Paraíba do Sul, Emilson Geraldo de Oliveira

“Emilson, eu estou chocado. Ao invés de combater o uso vocês ensinam as pessoas a se drogar com segurança?” Esta foi a pergunta feita, em tom indignado, pelo radialista Roberto Canazio, da Rádio Globo RJ, na manhã desta quarta-feira (29) durante o programa Manhã da Globo ao secretário de Saúde de Paraíba do Sul, Emilson Geraldo de Oliveira. Na pauta da emissora carioca, um protesto de uma mãe sul-paraibana revoltada com cartilhas que foram distribuídas por agentes de saúde durante o carnaval no município.

De acordo com Márcia Angélica, seu filho de 17 anos recebeu no sábado de carnaval, na Praça Marquês de São João Marcos, o popular Jardim Velho, uma cartilha, que na tese seria para evitar danos aos usuários de droga. Entretanto, a distribuição indiscriminada do material serviu, como citou o radialista, para ensinar os não usuários sobre como utilizar drogas de forma segura.
“Nunca use drogas sozinho. Tenha sempre alguém por perto”. “Se tiver experimentado uma droga nova ou mudado de fornecedor, por precaução divida-a em partes”. “Se a primeira dose do pó não bateu legal, descarte-a. Ela pode conter talco, pó de vidro ou mármore”. Estes são apenas alguns dos conselhos que constam na cartilha distribuída pela Secretaria de Saúde aos jovens sul-paraibanos, que indignaram o radialista da Globo.

Em sua defesa, o secretário Emilson afirmou à rádio que “a intenção dessa cartilha é evitar danos, já que a gente não pode fugir da realidade que a droga está nos nossos meios, no país, em todos os lugares. Então a intenção da Unesco, do Ministério da Saúde e da Secretaria estadual de Saúde é que as pessoas que usam drogas, que não tem como, nós temos R$ 10 milhões de usuários de drogas no Brasil, isso estatisticamente falando, então não tem como evitar que essas pessoas tenham maiores danos a sua saúde. A política do Ministério da Saúde junto com a Unesco é ensinar a essas pessoas meios para que elas se protejam. Porque não tem como você evitar que elas usem. Nós temos trabalho de prevenção”, afirmou Emilson.

Entretanto, afirma Roberto Canazio, a Secretaria estadual de Saúde, através de nota, afirmou que não há qualquer registro da distribuição do material intitulado “Fique só com o barato” para o município de Paraíba do Sul. Ela informou que essa cartilha foi feita para distribuir apenas para os usuários e não aleatoriamente.

- Quer dizer, o governo do estado nega – questionou o radialista.

- Não, todos os municípios da região receberam. Eu tive com meus colegas durante reunião... (tentou argumentar Emilson)

- Mas quem então está fugindo da verdade?, questionou novamente Canazio.

- Eu não sei. A intenção deles é atingir a população usuária de droga. A gente não pode chegar num município e excluir as pessoas, nós temos que informar as pessoas. Inclusive com essa informação de danos, é importante que a população que não é usuária saber também o que vai acontecer com ela, se ela usar droga. – disse o secretário

- Mas aqui quem não sabe usar vai ficar até curioso. Estou estarrecido com tudo isso – rebateu o radialista da Rádio Globo.

Roberto Canazio afirmou que se a intenção da cartilha era ensinar a se proteger, ela não poderia ser distribuída aleatoriamente, inclusive para pessoas que não são viciadas. Deveria ter sido direcionada a “guetos”, ou locais onde é alto o índice de consumo de drogas. Para Emilson, não há como separar essas pessoas.

- Secretário, pelo amor de Deus, ela está sendo distribuída aleatoriamente. As informações sobre Aids, o kit sobre Aids, as precauções que o soropositivo tem que ter, são distribuídos àqueles que estão inscritos, que fazem parte de um programa. Isso não vai cair na mão de uma pessoa que não é soropositiva – argumentou Canazio.

- Mas tem muitas pessoas que são portadoras do vírus da Aids que não são sabedoras – retrucou o secretário de Saúde.

- Mas aí a cartilha também não vai adiantar nada, porque não vai ser através da cartilha que eles vão saber, vai ser através de exame – rebateu Canazio.

Emilson Geraldo chegou a questionar: “como eu iria distribuir isso?”, se referindo a como separar os usuários dos não usuários. Como resposta, obteve um sonoro “isso eu não sei, é problema seu”.
O radialista afirmou que a distribuição das cartilhas causou uma revolta nas mães da cidade, já que diversas reclamações chegaram à Rádio Globo. O fato foi negado pelo secretário. Roberto Canazio passou a palavra a um médico que fazia parte da bancada de seu programa, que foi logo disparando contra o secretário Emilson.

- É uma coisa surreal. É a primeira vez que eu vejo neste programa uma autoridade fazer uso de um meio que ensina as pessoas a se proteger. Daqui a pouco nós vamos ter também que se o crime é inevitável, vão começar a ensinar as pessoas a matar sem a vítima sofrer. O senhor está estimulando o uso da droga, o senhor está endossando um erro. Essa cartilha é uma vergonha para os órgãos públicos – declarou revoltado.

A sul-paraibana Márcia Angélica, que denunciou a cartilha ao programa da Rádio Globo RJ, afirmou ao vivo: “Como mãe de adolescente e filho menor, e participando das festividades de carnaval, fiquei muito chocada quando meu filho de 17 anos recebeu este tipo de incentivo, de manual de como fazer uso de produto nocivo à saúde”. Para ela, “mesmo que eu tivesse um filho dependente de drogas eu não gostaria que desse a ele este tipo de manual. Porque se ele é viciado em uma droga eu não quero que ensinem para ele como se faz o uso das demais drogas. Eu acho um absurdo distribuir isso em praça pública para drogados e não drogados”, disse a mãe sul-paraibana.

A todo momento, Emilson Geraldo defendeu a ação de sua secretária. Mas, sem argumentos para rebater o radialista e a denunciante, pediu auxílio para combater o consumo de drogas, que segundo ele, está “descontrolado”.

- Então nós, enquanto população de cidade do interior, temos que tomar providências maiores. Porque quando o poder público concorda com esse tipo de divulgação nós ficamos ameaçados. É preciso que seja feita uma ação através do Ministério Público para impedir esse tipo de incentivo aos nossos filhos – concluiu a mãe Márcia Angélica.

A entrevista na íntegra pode ser conferida através do podcast do programa Manhã da Globo, no link http://radioglobo.globoradio.globo.com/noticias/2012/02/29/CARTILHAS-VOLTADAS-PARA-USUARIOS-DE-DROGAS-SAO-ENTREGUES-A-TODOS.htm

(COPIADO DO ENTRE-RIOS JORNAL)

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