segunda-feira, 28 de março de 2011

COMO JK VEIO A MIRACEMA* - Maurício Duarte Monteiro


"Nos idos de 1965, um grupo de formandos da Faculdade de Direito de Niterói optou por viagem à Europa a participar da festa de formatura, aproveitando uma campanha promocional da VARIG-TAP. Lá fomos nós para excursão relâmpago, começando por Lisboa, Madrid e Paris. No penúltimo dia na cidade luz, um colega, chamado Iso, de Niterói, agendou um encontro com o ex-presidente Juscelino Kubitschek em seu apartamento, para o domingo depois do almoço. Ficava situado no Boulervard Lannes, um bairro de classe média. Chegamos até o prédio, nº 65, apartamento 69. Pegamos o elevador, campainha e ele mesmo veio nos receber, impecavelmente num terno preto e convidou-nos para entrar.

O apartamento era pequeno, sala de jantar conjugada de um living, dois quartos. Na sala onde ficamos conversando havia duas poltronas menores e uma maior, esbranquiçada.

Abrindo a conversa, ele, indagou: "Quais são as notícias que trazem do Brasil?". Um silêncio constrangedor, nenhum de nós soube dar uma resposta. Eu, o mais tímido do grupo, arrisquei: "Apesar do governo exitoso de Carlos Lacerda, tudo indica que não fará o seu sucessor, tudo em face de um veto do Cardeal Dom Jaime Câmara a seu vice, Rafael de Almeida Magalhães, fluminense, esportista, com boa imagem no eleitorado jovem. Mas era desquitado, daí o veto da igreja católica. E Lacerda já demonstrava insatisfação com o Governo Federal e fazia críticas à política econômica implantada pelo Ministro Roberto Campos". Que matava o pobre de fome e o rico de raiva. JK gostou da observação.

Daí por diante a conversa girou, sempre em torno do Brasil, de políticos e de políticas e casos ocorridos no interior, pitorescos, que ele tanto gostava. Assim passamos o resto da tarde, até que as primeiras luzes começaram a ser acessas na grande Paris.

Era hora de partir. Levou-nos até a porta do elevador e disse-me: "Quando eu voltar ao Brasil, ainda vou tomar um cafezinho com você, em Miracema." Dona Sarah esteve uma vez na sala e logo se retirou. No hall do edifício a turma comemorou.

De volta ao Brasil e a Miracema, comentei o fato com meu pai e ele pediu para mudar de assunto..."

Texto de Maurício Duarte Monteiro, advogado, ex-presidente da OAB-MIRACEMA, memorialista e autor de vários livros contando histórias locais e regionais. O texto foi escrito exclusivamente para o blog e nunca foi publicado antes.

*Juscelino Kubitschek de Oliveira (Diamantina, 12 de setembro de 1902 / Resende, 22 de agosto de 1976) foi um médico, militar e político brasileiro. Conhecido como JK, foi prefeito de Belo Horizonte (1940-1945), governador de Minas Gerais (1951-1955), e presidente do Brasil entre 1956 e 1961. Foi o primeiro presidente do Brasil a nascer no século XX e foi o último político mineiro eleito para a presidência da república pelo voto direto.

6 comentários:

Carlos Mauro de Souza - Disouza disse...

Muito bom o texto, é um resgate de nossa história e da história do próprio ex-presidente e eterno presidente, Juscelino, que fez muito pelo Brasil.

Parabéns mesmo ao blog por se preocupar com a história de Miracema. Eu, particularmente, nunca tinha lido nada sobre a vinda de Juscelino a Miracema.

O bom é isso, bastante história, cultura e informações e pouca fofoca. E melhor se essa história é de Miracema.

Carlos Mauro de Souza - (Disouza)

Luiz Carlos Martins Pinheiro disse...

Amigo Maurício

Como somos fã de JK, no qual votamos e votariamos se a ditadura tívesse permitido, somos suspeitos para lhe agradecer por mais esta memória.

Nos formamos e começamos nossa vida profissional durante seu governo. Que época, pude recusar três convites da Petrobrás para nela trabalhar. Convidado para um órgão público optamos por ser diarista de obras, ou seja, um pária em termos legais e fomos prontamente nomeados. Poderiamos ter ido facilmente para a iniciativa como a quase totalidade de nossos colegas foram. Eramos mais de cem. Ninguém ficou desempregado. Mesmo sem experiência todos tiveram oportunidade de escolher onde trabalhar.

Nunca mais vimos isto, muito menos ainda uma repartição pública que nem autarquia era de tanta e destatacadas realizações sem uso de empreiteiros ou de terceirização. Máquinas e equipamentos raras no Brasil e pessoal excusivo do serviço público federal.

Que época sem igual.

Estivemos pessoal com JK, no Rio, antes da ditadura, mas já muito perseguido. Estava muito deprimido com a sua situação.

Abraços, saúde e Paz de Cristo.
Luiz Carlos/MPmemória.

Anônimo disse...

MUITO BOM ESSE INFORME, PARABÉNS!!

JL MISTALL -ESTUDIOSO OBRA JK

Anônimo disse...

Caro Dr. Maurício,

É com alegria que vejo o nome de JK sendo lembrado por um blog. Ele era um homem à frente do nosso tempo e, se vivo fosse, mesmo idoso, tenho certeza que seria um blogueiro, um tuiteiro.

Sou fã de JK há muitos anos. E estou ansiosa para ler os próximos informes.

Lúcia Helena de Almeida
Juiz de Fora/MG

Anônimo disse...

Sr. José Souto,



Agradecemos sua iniciativa ao publicar no seu blog, artigos referentes ao Presidente Juscelino Kubitschek.

Certamente, o Memorial estará atento para fazer cópias e introduzi-los na Sala de Pesquisa, para conhecimento dos que nos procuram.







Cordialmente,



Cirlene Ramos

Diretora Cultural do Memorial JK

Anônimo disse...

enquanto uns fofocam, aqui tem cultura e informação

josi