terça-feira, 2 de junho de 2020

MUSEÓLOGO DO IPHAN FALA SOBRE A PRESERVAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL DE MIRACEMA E ANALISA A QUESTÃO DOS TOMBAMENTOS

O blog entrevista hoje o museólogo do IPHAN, Rafael Azevedo F. Gomes que foi coordenador do Inventário da Arre Sacra Fluminense (INEPAC/Secretaria de Estado de Cultura) entre 2008 e 2015 é Doutorando em artes visuais, professor e consultor, é especialista em Arte Sacra, criação e gestão de museus e preservação de patrimônio cultural.


1) Você foi gestor na área cultural do Estado, como você vê o trabalho de preservação do interior fluminense?

Vejo que é um trabalho permanente. Já houve períodos de maior abandono, mas ainda estamos longe da situação ideal. Há o permanente desafio de aliar o progresso, a especulação imobiliária e a preservação dos sítios históricos. Há também a necessidade de situar o patrimônio cultural em outro espectro da gestão das cidades, viabilizando o uso sustentável e o desenvolvimento da economia da cultura.

2) E o trabalho feito em Miracema?

Miracema é uma das principais cidades históricas do Noroeste Fluminense. Possui um acervo arquitetônico de grande relevância histórica e artística. Sem me ater a circunstâncias políticas temporais, o desafio de Miracema é o mesmo de outras cidades históricas: transformar suas qualidades culturais em ativo para a cidade; desenvolver um plano de gestão que considere o uso adequado, sustentável e permanente de equipamentos e edifícios históricos com atividades que impactem na economia municipal.

3) Muitos proprietários reclamam que os imóveis tombados são desvalorizados, pois não podem ser modificados, como você encara esse debate, da perda de valor dos imóveis?

Essa problemática está enraizada no conflito entre a especulação imobiliária e a preservação cultural. São antagonismos históricos que dependem da tomada de consciência e do debate permanente entre os pares. O primeiro passo é a construção do diálogo entre órgãos de patrimônio e proprietários, viabilizando intervenções e ações de conservação preventiva sem necessidade de burocratização. Também vale ressaltar que o tombamento regular de edifícios implica no fim do pagamento do IPTU do imóvel, possibilitando, por exemplo, a dedução deste tributo para a manutenção do bem.

4) Em tempos de crise política, que atinge a cultura, como você vê o pós-pandemia para a cultura, uma das atividades que mais deve sofrer com a situação do coronavírus?

Difícil fazer uma previsão otimista. A crise econômica escasseia os recursos destinados à cultura, que de modo geral já anda desprestigiada no cenário nacional. Particularmente, considero importante como primeiro passo um plano descentralizado de socorro a artistas e movimentos culturais que estão literalmente sufocados neste momento. Também será muito importante a ação municipal após a abertura da quarentena, uma vez que diversos espaços e calendários são disponibilizados pela administração local.

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