quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

JOSÉ CARLOS REGO, O MIRACEMENSE QUE FAZ PARTE DA HISTÓRIA DO CARNAVAL CARIOCA - Ademir Tadeu

A coluna que escrevo pro Geral é totalmente dedicada ao esporte. No entanto, neste mês de fevereiro descrevo sobre outra paixão do brasileiro: o carnaval. Não necessariamente sobre a folia, mas de um conterrâneo que tinha paixão por essa festa. Neste ano de 2016, completam-se dez anos de sua morte, mais precisamente no próximo dia 4 de março. Quis o destino que numa quarta-feira de cinzas um AVC provocasse a sua morte cerebral. Três dias depois, aos 70 anos, veio a óbito.

Nascido em Miracema, em 3 de junho de 1935, começou aqui como locutor do serviço de auto-falante e fez reportagens para o jornal estudantil “O Federado”.  Em 1957, mudou-se para o Rio e começou a sua carreira no “Jornal Imprensa Popular”. Logo se transferiu para o jornal “Última Hora”, onde se destacou na cobertura das escolas de samba. A sua paixão pelo carnaval floresceu e o Império Serrano era a sua escola preferida, que dividia com o Vasco da Gama, o coração do miracemense. Em 1994 lançou o livro “A dança do samba”. A obra é considerada um clássico do tema.

José Carlos Rego era membro da ABI e do Conselho Superior de Música Popular do Museu da Imagem e do Som. Foi um dos fundadores e integrante permanente do júri do concurso “Estandarte de Ouro” do jornal O Globo, que premia os melhores do carnaval, desde a sua instituição, em 1972.

Durante a vigília que precedeu o sepultamento, seu filho, Rodrigo Ernesto de Andrade Rego, leu o perfil escrito por ele, intitulado “Missão cumprida.”

“No dia 3 de junho de 1935 nascia na cidade de Miracema um homem de muita ambição. Com muita coragem, inteligência e força de vontade, veio  para a cidade grande, onde buscou, trilhou e conseguiu o seu espaço. Posicionou-se como jornalista e passo a passo conseguiu ser reconhecido no seu ambiente de trabalho. Desde então, neste jornalista passou a rolar uma paixão que o acompanhou em toda a sua vida: o samba. Passou a se dedicar a conhecer a música e estudá-la profundamente. Durante estes anos, fez muitas amizades e conquistou a admiração e o reconhecimento dentro do mundo do samba. Compôs, criou, participou de um grupo de compositores e por final eternizou na forma de um livro grande parte dos seus conhecimentos. Em “Dança do samba, Exercício do prazer”. Reuniu grandes nomes que, assim como ele, faziam e fazem do samba a sua vida.

Outra paixão que levou com muito orgulho por toda a sua existência foi o prêmio Estandarte de Ouro, do jornal O Globo, que desde a sua primeira edição tinha este jornalista no corpo de jurados.  O carnaval era o ápice anual desta paixão, não abria mão nunca de assistir pessoalmente aos desfiles das escolas de samba.  Mas, não por acaso, neste ano de 2006 não quis participar da festa, para surpresa dos seus familiares.  Sentia-se cansado, mas hoje nós vemos que ele sabia que estava chegando a sua hora.  Estava se preparando espiritualmente.

Agora falaremos um pouco do lado pessoal deste jornalista. Pessoa amável e sempre com uma palavra de carinho, uma mão sempre disposta a ajudar.  Não tinha quem o conhecesse e já no primeiro encontro não se admirasse.  Por onde passou, ajudou muita gente, mas como um bom espírita não fazia questão de se vangloriar destas ajudas.  Um excelente pai, que criou, educou e deu o caminho certo para que seus filhos pudessem crescer e caminhar sozinhos.  Viu e se orgulhou de presenciar seus filhos se formarem; mais uma parte da missão estava sendo cumprida. Sua obra não poderia terminar sem um grande presente de Deus. E ele veio no mês de janeiro, de forma grandiosa e sublime: uma neta linda que a ele foi dado o prazer de dar o nome. Luanda, assim como a capital angolana, que ele se encantou ao conhecer nos anos 80.  


Depois disso tudo, ele foi, desencarnou, foi para um mundo melhor do que este em que nós aqui ficamos. Foi encontrar velhos amigos que ele tanto amava, como o seu grande parceiro Manuel da Paixão Pires. Foi encontrar seus pais e familiares que o aguardavam de braços abertos. Agora neste mundo nós não o vemos, mas ele nos vê e tenho a certeza de que está feliz e olhando por todos nós. Este homem, negro com orgulho, grande crítico musical, jornalista, é meu pai, de quem me orgulho muito. Pai, que seguramente está aqui entre nós, te digo poucas palavras: Obrigado! Até breve!”

Um comentário:

Anônimo disse...

Nos encontramos algumas poucas vezes quando ia ao Rio. Na ultima, almoçamos num restaurante na Lapa. Combinamos que viria a São Paulo falar de seu livro, o que acabou não ocorrendo. Ficou a lembrança, dos tempos de criança na santa terrinha e das conversas no Rio. E o autógrafo que emociona. "Ao Zé Maria Aquino, com o afetuoso braço do admirador e conterrâneo"29397""