segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

DDT E A DENGUE! - Aurélio Paiva

DDT é a abreviatura de um daqueles nomes feios em química: dicloro-difenil-tricloroetano.
No Século XX, nenhuma substância química salvou tantas vidas quanto ele.
Primeiro inseticida efetivo a ser descoberto (isto em 1939), jamais se viu (até o dia de hoje) algo tão potente contra os insetos e ao mesmo tempo seguro aos humanos, quando adequadamente aplicado.
Seu inventor, Paul Hermann Müller, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina em 1948 pela descoberta.
De cara, o DDT extinguiu da Europa todos os surtos de tifo, que haviam matado mais de 4 milhões de pessoas após a Primeira Guerra Mundial.
Graças a ele, a malária foi erradicada em grande parte dos países do mundo até 1970. Ele livrou da doença cerca de 500 milhões de pessoas em três décadas, segundo a Academia Nacional de Ciência dos EUA.
No Brasil, na década de 50, ele acabou com a dengue e a febre amarela, ambas transmitidas pelo aedes aegypti.
Na verdade ele acabou com o próprio mosquito. Todos eles.

Por que o aedes e sua dengue voltaram com tanta força

aedes aegypti começou a ser combatido pelo DDT no Brasil em 1947. Em 1955 foi erradicado o último foco do mosquito em território nacional.
O país relaxou e o danado do mosquito voltou no Pará e no Maranhão, mas só em 1967. Meteram DDT no bicho. Foi erradicado de novo.
Seu último retorno triunfal se deu entre 1978 e 1984. E ele permanece conosco até hoje, espalhado em todo o país.
Por que não tacaram DDT nele?
Porque alguns grupos ambientalistas implicaram, em todo o mundo, com o herói químico da humanidade e o DDT chegou a ser completamente banido pelos governos, no início da década de 70.
Resultado: só de malária, mais de 40 milhões de pessoas morreram na África (dois terços delas crianças) em virtude da proibição do DDT.
No Brasil, o aedes retornou não só com a dengue, mas agora com novas doenças, como o chikungunya e a zika.
Uma geração de crianças com microcefalia começa agora a nascer graças ao mosquito que se encontrava completamente exterminado no país, até a transformação do DDT em vilão.
São novas e velhas desgraças que surgiram nesta mistura de ambientalismo arrogante, ciência ruim e interesses da grande indústria química.

Tudo começou com um livro de ficção científica

Em 1962, a bióloga, ecologista e escritora americana Rachel Carson publicou o livro Silent Spring (Primavera Silenciosa) , uma ficção sobre os supostos perigos do DDT, chamado no livro de “elixir da morte”.
No seu livro, uma pequena cidade americana, por culpa do DDT, perdeu sua vida na primavera. Não tinha pássaros, nem peixes, nem abelhas, nem flores, nem folhas nas árvores – tudo por culpa do desgraçado do inseticida.
O livro virou best-seller e foi o motor da criação dos movimentos ambientalistas.
E o DDT foi sua primeira bandeira. Pesquisas, em sua maioria jamais comprovadas, associavam o DDT a todos os tipos de males.
Em 1969 a Suíça baniu o DDT. Em 1972 os EUA fizeram o mesmo. A ONU o condenou. Todos os países do mundo foram, aos poucos, aderindo à proibição.
Os insetos vetores de doenças fizeram a festa.

A turma que nadou na grana com a proibição do DDT

A indústria química passou a apoiar a proibição por uma razão simples: produzir o DDT é barato e não tem patente.
Novos inseticidas – sem a eficácia do DDT – foram criados por este complexo industrial e vendidos a preços absurdos para os países pobres onde a malária e outras doenças tropicais haviam novamente avançado (os países ricos já a haviam erradicado com o DDT).
Os insetos vetores de doenças fizeram a festa se embebedando no sangue das crianças africanas, e dando-lhes em troca doses de doenças mortais.
A indústria química fez e faz a festa com caríssimos inseticidas de curta duração e duvidosa eficácia.
O DDT protege uma casa por 6 meses a 1 ano ou até mais. Os novos inseticidas por 3 meses ou até menos. Quanto mais se reaplica, mais a indústria fatura.
Isto, sem erradicar os insetos.
Afinal, se os insetos forem erradicados, acabou o negócio.

A ONU e até ambientalistas voltam atrás sobre o uso do DDT

Em 2006, a ONU, através da Organização Mundial de Saúde, começou a recuar quanto à proibição do DDT – depois da morte de cerca de 40 milhões de pessoas por malária após a proibição.
Os argumentos da OMS foram arrasadores, conforme noticiou a BBC naquele ano:
“Indícios científicos e programáticos claramente apoiam a revisão (dessa diretriz)”, disse o diretor-geral assistente para Malária da OMS, Anarfi Asamoa-Baah.
“A aplicação (de DDT) dentro das casas é útil para reduzir rapidamente o número de infecções causadas pelo mosquito. O custo é comprovadamente tão eficiente quanto o de outras medidas de prevenção, e o DDT não apresenta riscos à saúde se utilizado adequadamente”, ele disse.
O diretor do Programa Mundial de Malária da OMS, Arata Lochi, afirmou que “de todos os inseticidas que a OMS considera seguros para uso interno, o mais eficiente é o DDT”.
Até o Greenpeace – vejam só – passou a defender o uso do DDT em caso de surtos de doenças, como a malária na África e na Ásia.

Resultados do DDT voltam a aparecer

Vários países da África e Ásia estão caminhando para erradicar a malária. Coincidentemente, após a OMS estimular e seus governos a adotarem o uso do DDT no interior das casas.
O problema do DDT, no passado, é que abusaram dele. Foi usado indiscriminadamente na agricultura como fumegante.
Mas ele é considerado pela OMS um inseticida extremamente seguro para os humanos quando usado corretamente nas paredes das residências.
Ao contrário da maioria dos novos inseticidas, o DDT não é absorvido pela pele humana nem dos animais, mas é imediatamente absorvido pela “pele”(o exoesqueleto) dos insetos.
No Brasil, seu uso e estoque são proibidos.
Em 14 de maio de 2009 o então presidente Lula assinou uma lei proibindo a fabricação, a importação, a exportação, a manutenção em estoque, a comercialização e o uso do DDT.
Mais: todos os estoques de produtos contendo DDT tinham que ser incinerados no prazo de 30 dias.
E assim foi feito.

Novas descobertas explicam por que o DDT é tão especial

O grande problema dos inseticidas é que os danados dos insetos criam resistência a eles.
Isto vale tanto para o velho e barato DDT quanto para os novos e caríssimos inseticidas.
Em muitos casos a resistência dos insetos ao DDT é maior que a dos seus primos modernos, mas uma coisa encucava os cientistas: mesmo em áreas em que insetos têm alta resistência ao DDT, ele continua funcionando eficazmente.
A resposta a esta questão só começou a ser esclarecida nos últimos anos.
Os cientistas descobriram que a toxidade não é a única arma do DDT contra os insetos. Na verdade, nem é a principal.

Capacidade única de repelir e irritar insetos

Em 2007 a renomada revista científica “Nature” publicou um estudo intitulado “A capacidade do DDT para repelir mosquitos supera resistência, dizem cientistas”. Era uma das muitas pesquisas constatando que, no caso dos mosquitos transmissores da malária (anopheles) o DDT repelia das casas mesmo os mosquitos resistentes a ele.
Já em 2010, o periódico científico “Journal of Medical Entomology” publicou um estudo de sete cientistas da Entomological Society of America narrando uma incrível experiência envolvendo o DDT e nosso conhecido aedes aegypti, o da dengue e da zika.
Eles constataram que o DDT age tem três atuações distintas: causa no mosquito repelência, irritação e toxidade mortal.
Da mesma forma que no caso da malária, mesmo os aedes resistentes ao DDT são repelidos a não entrar nas casas protegidas e os que dentro se encontram sofrem tal irritação que abandonam o local.
Com isso, as pessoas ficam protegidas, obviamente, mas não é só. Várias pesquisas mostram que este efeito irritante reduz a fecundidade das fêmeas do mosquito. Além disso, elas perdem acesso ao alimento (sangue humano, sua preferência). Morrem, inúmeras vezes, antes de por os ovos. O ciclo se quebra.
Um último detalhe é que os autores da última pesquisa citada descobriram que o DDT foi o único, entre todos os outros mais modernos inseticidas testados, que mostrou esta capacidade.
Todos os demais inseticidas, quando o mosquito apresentava resistência à sua toxidade e não morria, foram incapazes de repeli-los ou mesmo irritá-los.
A atmosfera invisível de proteção criada pelo DDT nas áreas que ele protege é única.

Hora de quebrar os tabus

O autor não pretende esgotar o assunto – mesmo porque não é especialista na área. O que fizemos foi recorrer a estudos de especialistas. Preferencialmente os estudos mais recentes e com publicações, revisadas por pares, feitas em periódicos respeitáveis no meio científico.
Mas o fato é que é preciso quebrar o tabu de nem sequer se cogitar o uso do DDT no Brasil.
DDT virou nome feio.
Não é.
Nomes feios são dengue, zika, chikungunya e microcefalia.

(ARTIGO COPIADO DO JORNAL DIÁRIO DO VALE DA COLUNA DE AURÉLIO PAIVA)

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