sábado, 13 de fevereiro de 2016

A DOENÇA INCURÁVEL DAS CATEGORIAS DE BASE DO FUTEBOL BRASILEIRO - Ademir Tadeu

Um dos maiores problemas do futebol brasileiro está na divisão de base, com 90% dos clubes não tendo a estrutura devida e praticamente formando os atletas com o objetivo principal de vendê-los para o exterior e cobrir os rombos de seus cofres. São Paulo, Santos, Internacional, Vitória (BA) e Fluminense, são os clubes que mais revelam jogadores, em termos qualitativos. A estrutura é fundamental em todos os sentidos para que o atleta tenha o mínimo de condições de dar o retorno necessário. Atlético (MG), Cruzeiro e Atlético PR, possuem centros de treinamentos de 1º mundo e também fazem um bom trabalho nas categorias de base que não pode deixar de ser citado.  

Desde o início dos anos 2000, o Santos foi o time que mais aproveitou suas revelações, conseguindo segurar os garotos por mais um tempo e conquistando títulos importantes. Posteriormente todos foram vendidos e, mesmo assim, os maus dirigentes não conseguiram colocar as finanças em dia.  O Tricolor carioca revela, mas acaba usufruindo muito pouco de seus valores, que logo são negociados. Inclusive, alguns deles saindo direto dos juniores para o exterior. 

Sobre o Flamengo, outro time que sempre revelou jogadores, tem um slogan que virou marca registrada de seus dirigentes e torcedores: “craque o Flamengo faz em casa”. Já fez muitos e hoje, faz muito pouco. O bom time que ganhou a Copa São Paulo de Juniores em 2011, é a prova concreta de que os garotos não conseguem manter o mesmo nível quando são alçados ao time principal. Vários são os fatores, entre os quais, a necessidade de lançar os jovens no fogo, geralmente quando o time não vai bem e acabam queimando as etapas de uma transição que deveria ser gradual e de preferência sem a exigência de resultados imediatos. O time base do Flamengo campeão de 2011 era o seguinte: César, Alex, Marllon, Frauches e Anderson; Muralha, Lorran e Adryan; Negueba, Lucas e Rafinha. Quem vingou?  Adryan era o nome da vez e hoje está emprestado a um time pequeno da Itália. Pode-se afirmar que o Renato Augusto, em 2006, foi a última grande revelação do rubro-negro, e fez a sua melhor temporada pelo Corinthians em 2015. O Flamengo conquistou mais um título da Copa São Paulo de Juniores no último mês de janeiro, e novas promessas surgem para abastecer o time principal. 

Os demais cariocas, Vasco e Botafogo, mergulhados em uma crise sem precedentes, já tiveram seus momentos de glória revelando jogadores de alto nível. Nos anos 50 e 60, o Glorioso e o Santos formaram a base da Seleção Bicampeã Mundial em 1958 e 1962. Depois disso, qual foi o último jogador revelado pelo Botafogo que conseguiu algum destaque? Temos que voltar aos anos 80 para citar o volante Alemão. No caso do Vasco, que sempre revelou grandes atacantes, Edmundo foi o último, em 1992. Os mais recentes, Alex Teixeira e Philippe Coutinho, que jogam na Ucrânia e Inglaterra, respectivamente, ainda precisam provar algo mais para entrar no seleto grupo de craques. O Coutinho vive um bom momento no Liverpool e tem sido convocado para a Seleção.

Outro grave problema na formação do atleta na base são os "professores" de qualidade duvidosa e a pressão por parte de alguns times em conquistar títulos, o que é o menos relevante nesta categoria. Fatores extracampo, mais precisamente os empresários e os pais dos atletas, com pressões para escalação e a conseqüente visibilidade dos garotos, acabam prejudicando, no contexto geral, parte da formação técnica do atleta. Resumindo: está tudo errado!  E o resultado final é o que estamos presenciando, pois os jogadores chegam ao profissional com vícios e diversas deficiências técnicas, que deveriam ter sido aperfeiçoadas quando mais jovens. A palavra mais adequada para exemplificar o que passa na cabeça dos empresários, pais e também dos dirigentes, é a GANÂNCIA. Todos querem levar algum tipo de vantagem! (texto de Ademir Tadeu, especial para o Blog Miracema, onde ele terá um espaço semanal)

Nenhum comentário: