A história da personagem Selma, da novela das 21h, interpretada pela
atriz Ana Beatriz Nogueira vem chamando a atenção do público. Ela tem
sofrido lapsos de memória, mas o caso ainda não foi diagnosticado. De
acordo com o neurologista cooperado da Unimed, Dinizar José de Araújo
Filho, trata-se da doença conhecida como Alzheimer, que atinge mais
mulheres do que homens, a partir dos 60 anos de idade. Em Petrópolis, a
presença dela é significante segundo o neurologista, uma vez que, a
expectativa de vida é elevada, em torno dos 75 anos.
Os primeiros sintomas são clássicos, a perda de memória recente,
dificuldade de concentração, confusão de tempo e espaço. A estimativa,
segundo o neurologista, é que existam 1.300.000 casos no país, mas boa
parte não diagnosticada.
Para o médico, a personagem de Selma está caracterizando bem a fase
inicial do Alzheimer e ele acredita que abordar esse tema em uma novela
representa uma prestação de serviço para a sociedade. “Quando a pessoa
assiste e identifica os hábitos de alguém da família com os da
personagem, acaba procurando um médico. Aqui no consultório já recebi
uma paciente que falou que estava igual a mulher da novela”, revelou.
Dinizar explicou que a doença é divida em três estágios. O primeiro, é
caracterizado por alterações iniciais, onde o paciente tem períodos em
que esquece as coisas e outros lúcidos. “Nesta fase, ele começa a
apresentar prejuízo nas capacidades cognitivas, esquecimento, repete as
coisas, se surpreende com situações que já conhecia, tem dificuldade de
concentração e compreensão, confusão no tempo e no espaço, perda da
linguagem e insegurança”, disse.
Já o estágio secundário, é marcado, de acordo com o neurologista, por
episódios de agitação, insônia, sonolência intensa, inatividade,
processo de isolamento e depressão, mais uma desconfiança intensa.
Nas duas primeiras fases, o médico afirmou que há possibilidades de
tratamento, feito por meio de remédios, que permitem a estabilização da
doença ou evitam a progressão acentuada dela. Incentivos pedagógicos,
como a participação em grupos sociais, em aulas de informática, línguas
estrangeiras e de música também podem ajudar a estimular a atividade
cerebral. “É uma ginástica mental. Além disso, a prática de exercícios
físicos e a alimentação saudável melhoram a condição cerebral”,
explicou.
Já no 3º e último estágio, a situação é mais complicada e os
medicamentos são apenas para atenuar sintomas, como de insônia e
agressividade. “É feito um tratamento de suporte, um paliativo”,
destacou. É neste período, que a pessoa esquece nomes de familiares
distantes e até dos que convivem com ela no dia a dia, tem alterações
motoras, como dificuldade para locomoção. Ela também perde a capacidade
de comunicação e interação e tem alucinações.
Como toda doença, ele ressaltou que o diagnóstico precoce é
fundamental e que uma pessoa com Alzheimer pode viver até 30 anos. “A
doença demora de 10 a 30 anos para evoluir e não mata diretamente, mas
leva a morte por favorecer doenças paralelas. O caso mais frequente é o
de pneumonia”, afirmou.
As causas do Alzheimer são desconhecidas, mas segundo Dinizar,
existem alterações das estruturas dos neurônios. “O que sabemos é que
vai ocorrendo a morte das células cerebrais e que existe uma
predisposição genética”, disse. Mas, o especialista ressaltou que se o
filho tem o pai e a mãe, que sofreram de Alzheimer, isso não quer dizer
que ele também vai ter. Porém, ele destacou que as chances aumentam de
acordo com o histórico familiar. “Com base nisso, é importante procurar
assistência médica”, afirmou.
Sobre os exames, que detectam a doença, ele disse que não existem
definitivos, mas presuntivos que ajudam a confirmar o diagnóstico. Ele
afirmou que também são feitos testes para verificar a capacidade de
memória do paciente.
Familiares com Alzheimer
Conviver com a doença não é uma tarefa fácil. Márcia Filgueiras, de
38 anos, contou como foi que descobriu que a sogra que, na época, tinha
74 anos, tinha Alzheimer. “Ela morava comigo e eu e meu marido começamos
a perceber um comportamento estranho. Ela esquecia as coisas, não
queria tomar banho, repetia as falas e vivia lembrando coisas do
passado”, relatou. Foi então que resolveram levá-la no especialista que
fez alguns testes e comprovou a doença. Ela começou a tomar remédio, mas
mesmo assim não apresentou melhora. “Ela foi piorando muito rápido,
chegou ao ponto de tirar a roupa em qualquer lugar, até na Igreja
tínhamos que ficar vigiando”, comentou.
Outra característica da sogra de Márcia, era falar que tudo pertencia
ao marido, que já tinha morrido. “Ela também parou de comer sozinha,
ficava andando de um lado para o outro dentro de casa e ficou totalmente
dependente, até para fazer as próprias necessidades”, destacou.
Márcia salientou que foi preciso ter paciência para lidar com a
situação, aprender a não discordar para evitar que a sogra ficasse
nervosa e observar o comportamento o tempo inteiro. Dois anos após a
descoberta da doença, a sogra morreu após um infarto enquanto dormia.
Já a advogada Adriana Rosa está vivendo uma situação parecida com a
avó de 89 anos. “Foi a dificuldade na memória que nos levou a perceber
que ela podia estar com Alzheimer. Ela sempre foi uma pessoa muito ativa
e independente e de repente começou a esquecer os nomes das pessoas e
alguns episódios. Quando levamos ao médico, no ano passado, ele
diagnosticou rapidamente”, disse.
A avó da Adriana está no estágio secundário, toma o medicamento para a
doença não progredir, mas se tornou dependente até para realizar as
atividades básicas. “É triste ver uma pessoa que sempre teve uma
dinâmica de vida agitada e agora precisa de ajuda para tudo. Dói ver ela
tentando lembrar uma coisa e não conseguir. Esta semana a levei para
almoçar no meu restaurante e ela ficou perguntando o tempo inteiro se
íamos para a Igreja”, relatou.
Dinizar acrescentou que a doença não é recente e que o primeiro
quadro diagnosticado foi com uma mulher em 1906. Mas, ele destacou que o
conhecimento sobre o Alzheimer é novo e que os medicamentos começaram a
existir há 10 anos.
(Aline Rickly-Redação Tribuna de Petrópolis)
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