segunda-feira, 26 de maio de 2014

MÉDICO DIZ QUE NOVELA AJUDA DIAGNÓSTICO DE DOENÇA GRAVE


A história da personagem Selma, da novela das 21h, interpretada pela atriz Ana Beatriz Nogueira vem chamando a atenção do público. Ela tem sofrido lapsos de memória, mas o caso ainda não foi diagnosticado. De acordo com o neurologista cooperado da Unimed, Dinizar José de Araújo Filho,  trata-se da doença conhecida como Alzheimer, que atinge mais mulheres do que homens, a partir dos 60 anos de idade. Em Petrópolis, a presença dela é significante segundo o neurologista, uma vez que, a expectativa de vida é elevada, em torno dos 75 anos.
Os primeiros sintomas são clássicos, a perda de memória recente, dificuldade de concentração, confusão de tempo e espaço. A estimativa, segundo o neurologista, é que existam 1.300.000 casos no país, mas boa parte não diagnosticada.
Para o médico, a personagem de Selma está caracterizando bem a fase inicial do Alzheimer e ele acredita que abordar esse tema em uma novela representa uma prestação de serviço para a sociedade. “Quando a pessoa assiste e identifica os hábitos de alguém da família com os da personagem, acaba procurando um médico. Aqui no consultório já recebi uma paciente que falou que estava igual a mulher da novela”, revelou. 
Dinizar explicou que a doença é divida em três estágios. O primeiro, é caracterizado por alterações iniciais, onde o paciente tem períodos em que esquece as coisas e outros lúcidos. “Nesta fase, ele começa a apresentar prejuízo nas capacidades cognitivas, esquecimento, repete as coisas, se surpreende com situações que já conhecia, tem dificuldade de concentração e compreensão, confusão no tempo e no espaço, perda da linguagem e insegurança”, disse.
Já o estágio secundário, é marcado, de acordo com o neurologista, por episódios de agitação, insônia, sonolência intensa, inatividade, processo de isolamento e depressão, mais uma desconfiança intensa. 
Nas duas primeiras fases, o médico afirmou que há possibilidades de tratamento, feito por meio de remédios, que permitem a estabilização da doença ou evitam a progressão acentuada dela. Incentivos pedagógicos, como a participação em grupos sociais, em aulas de informática, línguas estrangeiras e de música também podem ajudar a estimular a atividade cerebral. “É uma ginástica mental. Além disso, a prática de exercícios físicos e a alimentação saudável melhoram a condição cerebral”, explicou. 
Já no 3º e último estágio, a situação é mais complicada e os medicamentos são apenas para atenuar sintomas, como de insônia e agressividade. “É feito um tratamento de suporte, um paliativo”, destacou. É neste período, que a pessoa esquece nomes de familiares distantes e até dos que convivem com ela no dia a dia, tem alterações motoras, como dificuldade para locomoção. Ela também perde a capacidade de comunicação e interação e tem alucinações. 
Como toda doença, ele ressaltou que o diagnóstico precoce é fundamental e que uma pessoa com Alzheimer pode viver até 30 anos. “A doença demora de 10 a 30 anos para evoluir e não mata diretamente, mas leva a morte por favorecer doenças paralelas. O caso mais frequente é o de pneumonia”, afirmou. 
As causas do Alzheimer são desconhecidas, mas segundo Dinizar, existem alterações das estruturas dos neurônios. “O que sabemos é que vai ocorrendo a morte das células cerebrais e que existe uma predisposição genética”, disse. Mas, o especialista ressaltou que se o filho tem o pai e a mãe, que sofreram de Alzheimer, isso não quer dizer que ele também vai ter. Porém, ele destacou que as chances aumentam de acordo com o histórico familiar. “Com base nisso, é importante procurar assistência médica”, afirmou. 
Sobre os exames, que detectam a doença, ele disse que não existem definitivos, mas presuntivos que ajudam a confirmar o diagnóstico. Ele afirmou que também são feitos testes para verificar a capacidade de memória do paciente. 

Familiares com Alzheimer
Conviver com a doença não é uma tarefa fácil. Márcia Filgueiras, de 38 anos, contou como foi que descobriu que a sogra que, na época, tinha 74 anos, tinha Alzheimer. “Ela morava comigo e eu e meu marido começamos a perceber um comportamento estranho. Ela esquecia as coisas, não queria tomar banho, repetia as falas e vivia lembrando coisas do passado”, relatou. Foi então que resolveram levá-la no especialista que fez alguns testes e comprovou a doença. Ela começou a tomar remédio, mas mesmo assim não apresentou melhora. “Ela foi piorando muito rápido, chegou ao ponto de tirar a roupa em qualquer lugar, até na Igreja tínhamos que ficar vigiando”, comentou. 
Outra característica da sogra de Márcia, era falar que tudo pertencia ao marido, que já tinha morrido. “Ela também parou de comer sozinha, ficava andando de um lado para o outro dentro de casa e ficou totalmente dependente, até para fazer as próprias necessidades”, destacou. 
Márcia salientou que foi preciso ter paciência para lidar com a situação, aprender a não discordar para evitar que a sogra ficasse nervosa e observar o comportamento o tempo inteiro. Dois anos após a descoberta da doença, a sogra morreu após um infarto enquanto dormia. 
Já a advogada Adriana Rosa está vivendo uma situação parecida com a avó de 89 anos. “Foi a dificuldade na memória que nos levou a perceber que ela podia estar com Alzheimer. Ela sempre foi uma pessoa muito ativa e independente e de repente começou a esquecer os nomes das pessoas e alguns episódios. Quando levamos ao médico, no ano passado, ele diagnosticou rapidamente”, disse. 
A avó da Adriana está no estágio secundário, toma o medicamento para a doença não progredir, mas se tornou dependente até para realizar as atividades básicas. “É triste ver uma pessoa que sempre teve uma dinâmica de vida agitada e agora precisa de ajuda para tudo. Dói ver ela tentando lembrar uma coisa e não conseguir. Esta semana a levei para almoçar no meu restaurante e ela ficou perguntando o tempo inteiro se íamos para a Igreja”, relatou. 
Dinizar acrescentou que a doença não é recente e que o primeiro quadro diagnosticado foi com uma mulher em 1906. Mas, ele destacou que o conhecimento sobre o Alzheimer é novo e que os medicamentos começaram a existir há 10 anos.
(Aline Rickly-Redação Tribuna de Petrópolis)

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