segunda-feira, 18 de abril de 2011

COMO JK VEIO A MIRACEMA IV


Depois de ter feito o convite, novamente em Miracema, naquela vida roceira, sem acontecimentos, futebol nas tardes de domingo entre o Tupan e o Esportivo ou o Miracema do Jair Polaca. É verdade que não voltei. Por mais que desse asas à imaginação, não poderia imaginar que um presidente da República fosse interessar por um discurso feito aqui no interior. Depois de quase um mês, recebo um cartão do Presidente. Ele dizendo que desejava descansar por uns dias e que resolveu passar uns dias em Miracema. Eu não estava em casa e meu pai quando viu a inscrição "J.K." no envelope do cartão, não resistiu e abriu-o. Era o discurso, logo entendi.

Quando residia em Niterói, passava na Livraria São José e comprava uns exemplares para distribuir entre amigos, de tão barato que era e ninguém dava valor ao mesmo. Mas de tanto ler e reler, acabei por decorar uns períodos. O exemplar que me restava estava sem capa, por via das dúvidas levei-o para Niterói no fim de semana. De lá até o Rio, Livraria São José e o vendedor informou-me que o restante era considerado encalhe e todos foram vendidos. Um dos mais lúcidos documentos sobre a crise brasileira que iria desaguar no Movimento Militar de 1964.

Tempos depois é que soube, pelo Veríssimo, então motorista e ajudante do ex-presidente, que no dia seguinte ele indagou: "Quem é este rapaz?" E completou: "Ele sabe quase tudo sobre o meu governo, residindo no interior?" Informado por um tio fui até a "Casa de Amanhã" - a mesma que editou o livro "Os sertões dos Puris". Lá, pedi uma encadernação das melhores. Dois dias depois o livreto estava pronto, ficou um primor. Logo fui ao Rio, na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, onde mantinha um escritório, no último andar, com mais um lance de escada. Ele não havia chegado ainda, mas três ou quatro pessoas já o aguardavam, depois chegaram outras. Fui o último a ser atendido. Estava visivelmente irritado, quando passou por nós. Quando fui chamado a entrar na sala do ex-presidente, se encontrava com os olhos fechados, os braços caídos na cadeira de espaldar alto."

Texto escrito pelo advogado Maurício Duarte Monteiro, ex-presidente da OAB-MIRACEMA, memorialista e escritor, com vários livros publicados.

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