Comício em 1988: chapa Wilson/Darcy, com discurso de Francisco Dornelles (ex-Senador)
Foto do Facebook de Juliano Caloy
Depois do artigo falando sobre minha história nas eleições onde a votação era manual, vamos aprofundar em cada pleito eleitoral e falar sobre nossa visão e participação. Isso para mostrar e relembrar o que era a votação em papel, comparando à votação em urna eletrônica. Se você não leu o primeiro artigo, leia neste blog.
Em 1988 eu tinha 18 anos e já me interessava por política. O candidato era meu vizinho e parente de meu pai, o agricultor Jairo Barroso Tostes. As campanhas eram bem mais liberadas que as posteriores, a distribuição de camisas e brindes era permitida, assim, desde os famosos santinhos, eram distribuídos espelhos, camisas, chaveiros e os adesivos de carro ainda eram de plástico e colados na parte interior do veículo, mas bem mais discretos que os adesivos usados hoje. Acho que as campanhas eram mais alegres.
Wilson e Márcio Antunes (foto Juliano Caloy)
Jairo era político, tinha forte atuação do então MDB (que agora voltou a ser MDB), partido que sucedeu a UDN, militava junto aos agricultores, que moviam a economia de Miracema.
Me lembro pouco da campanha eleitoral, mas acho que foi ali que comecei a gostar de política. Consultando o site do TRE/RJ, em 1988 foram eleitos os prefeitos, vice-prefeitos, governador, senador, deputado federal e deputado estadual, fato que não consta do registro das eleições de Miracema, no site da Justiça Eleitoral, onde constam apenas registros da eleição municipal (prefeito e vereador). No caso do prefeito e governador a cédula continha os nomes dos concorrentes, os demais, o eleitor era obrigado a escrever o nome ou número do escolhido. Imaginem a dificuldade. Diferentemente do que ocorre hoje, em 1988 eram eleições gerais. Atualmente as eleições federais e estaduais não são na mesma data da eleição municipal.
Importante lembrar que nessa época não havia eleição para presidente, ela só ocorreu em 1989, com a eleição de Collor. O presidente era escolhido pelos deputados federais e senadores. Eram eleições indiretas. Daí a campanha das Diretas Já, a qual fortaleceu o gosto, dos jovens da época, por política.
Nessa eleição eu não trabalhei profissionalmente para nenhum dos candidatos, mas lembro de uma campanha bem acirrada, os comícios eram disputados. E um dado interessante, o candidato eleito em Miracema (Jairo), não falava nos comícios, sempre era representado por alguém. Jairo era avesso ao microfone, mas mesmo assim ganhou a eleição.
A votação aconteceu nos colégios públicos e particular que haviam na época. Lembro que haviam urnas na antiga prefeitura (ao lado da igreja), no Colégio Estadual Deodato Linhares, Ferreira da Luz e Miracemense.
Os candidatos a prefeito e vice, em 1988 foram Jairo Tostes/João Poeys, Wilson Marinho/Darcy Annibal, Adalberto Albino/Márcio Antunes, Valdemar/Carlos Augusto, Ronaldo Linhares/José Couto, Geraldo Andrade (Mamãe)/Carlos Gualter.
Lembro muito da campanha dos médicos Adalberto e Márcio. Dr. Adalberto usou na campanha a frase "Miracema no Coração". E a disputa eleitoral começou antes, dentro do PMDB, pois disputou as prévias com Jairo, tendo o ex-prefeito Jairo sido o escolhido. Adalberto migrou para o PTR, mas deixou histórias bacanas na política de Miracema, com o forte slogan que usava a imagem de um coração ao lado do nome da cidade. Quem tem mais de 40 anos lembra dessa campanha.
Dr. Adalberto deixou marcas na política de Miracema, ao engajar empresários, comerciantes e cidadãos que antes não se envolviam em eleições e partidos. Posso lembrar aqui de Renato Mercante, Betinho Cagiano e o próprio Márcio Antunes. Mesmo assim, não me lembro de novas participações do saudoso ortopedista em eleições futuras, como candidato. Eu não votei em Adalberto, em quase todas as futuras eleições estivemos em grupos diferentes, mas sempre o respeitei muito, especialmente por admirar muito sua esposa, a advogada Glaucia Albino.
Também importante lembrar da campanha do PT, partido muito novo e em crescimento no Brasil. O candidato foi o dentista Valdemar, fez uma campanha bem movimentada. E dessa campanha nasceu a base da esquerda local. Apesar de forte, o PT nunca ganhou uma eleição em Miracema.
Wilson Marinho também fez história. Chegou a Miracema e era conhecido como Wilson "Milionário", pois era um empresário de sucesso, construiu uma casa muito grande e ajudou muitos miracemenses, com empregos e oportunidades em suas empresas na capital. Wilson nunca conseguiu ser eleito para o cargo majoritário, apesar de várias tentativas.
VOTAÇÃO - No colégio Estadual a concentração de votantes era muito grande. A aglomeração na entrada era enorme e o trabalho dos chamados "cabos eleitorais" era intensa. A "compra" de votos era uma realidade. E não havia quem conseguisse frear o trabalho criminoso desse povo. Ostensivamente pediam votos, inclusive com entrega de valores em dinheiro. A Justiça Eleitoral fez a prisão de algumas pessoas, que eram levadas para o antigo Fórum (onde hoje está a sede da prefeitura municipal) e esses indivíduos eram "soltos" ao final do dia.
Importante ressaltar que nessa época foi um erro a concentração de urnas eleitorais no Estadual e no Miracemense. As filas eram enormes e a ação dos compradores de voto era intensa.
APURAÇÃO - O juiz eleitoral era o Dr. Fernando Camarota. Foram apurados 14.245 votos. Após uma campanha aguerrida, a apuração não ficou atrás. Eu estava no Fórum como estagiário da OAB e assisti parte da apuração bem de perto. O clima era de guerra. Pois as urnas eram recepcionadas, as mesas de apuração montadas após a votação. Mas até montar essa logística, demorava muito. A votação foi no dia 15 de novembro, mas o resultado saiu apenas no dia 18 de novembro. Vejam só, 3 dias para apurar pouco mais de 14 mil votos.
As possibilidades de fraudes eram enormes, os riscos ainda maiores. As contagens varavam madrugada a fora e eram suspensas apenas para uma noite curta, retomando logo no dia seguinte. Um trabalho exaustivo.
Eu lembro da impugnação de resultados, obrigando o juiz a reabrir urnas e recontar votos, gerando novo resultado, diferente do primeiro. Isso era cena comum.
E note-se que além da eleição de prefeito, também era apurada a eleição de vereador. A apuração de vereador era ainda mais complexa, pois dependia da "interpretação" de quem estava apurando. Uns votos eram aceitos e outros, considerados inválidos. Dados recentes dizem que 40% dos votos dados nas eleições com votos de papel eram invalidados, nulos ou brancos. Na urna eletrônica esse número é próximo de 9%.
Uma diferença muito grande, pois a votação em papel exige que o eleitor memorize e transcreva o número do candidato, no caso de vereador, senador e deputado estadual e federal.
Os candidatos tiveram a seguinte votação, segundo boletim do TRE/RJ,
link aqui:
Jairo - 4.720
Wilson - 3.719
Adalberto - 2.803
Valdemar - 707
Ronaldo Linhares - 233
Geraldo Mamãe - 48
A eleição para vereador elegeu os seguintes candidatos:
José Hamilton Alves - 468
João Magalhães - 377
Reginaldo Rizzo - 293
Sinésio Gross - 257
Magno Almeida - 245
Chaquib - 204
Paulo Lamarca - 194
José Cabreira - 191
Fernando Nascimento - 147
Paulo Benedito - 135
Desse modo, é claro perceber que o voto impresso não é sinal de lisura, nem de resultados fidedignos, ao contrário, a chance de se fraudar os resultados é muito maior, a transparência é mínima e as noites e madrugadas contando votos, possibilitam que se opere todo tipo de fraude.
É impossível o exercício de fiscalização, pelos partidos, da contagem dos votos. Isso porque cada mesa de apuração tem um único fiscal, para vários realizando a contagem. Quem garante que o voto contado pra A, não foi computado para o candidato B?
E no momento de transcreve os votos? Quem garante que os votos conferem com o que consta em cada urna?
Na eleição com urna eletrônica, ao final do dia, após o encerramento da votação, os fiscais já sabem quantos votos cada candidato obteve em cada urna. A apuração é feita dentro da própria seção eleitoral, apenas a totalização acontece fora. Mas quando encerra a votação às 17 horas, já sei quantos votos o meu candidato obteve em cada urna.