Com a morte de Aymoré, ocorrida em Salvador (BA), em
26 de julho de 1998, por falência múltipla dos órgãos, terminou a última
dinastia familiar do futebol brasileiro, formada pelos três irmãos, que durante
muitos anos fizeram parte da história do esporte nesse país. Zezé, Aymoré e Airton, conseguiram um fato
raro em todo o mundo, onde três irmãos, à mesma época, destacaram-se
desempenhando a mesma função de técnico de futebol.
Nascido em 24 de abril de 1912, na cidade de Miracema
(RJ), iniciou sua longa carreira no futebol como goleiro do Sport Club Brasil,
equipe amadora do Rio, aos 18 anos, em 1930, levado que foi pelo seu irmão mais
velho, Zezé Moreira, que já estava estabelecido na cidade.
Aymoré jogou também no América (RJ) – 1932/33, no
Palestra Itália (o atual Palmeiras) – 1934/35 (campeão paulista de 1934), e
transferindo-se no ano seguinte para o Botafogo (RJ), onde permaneceu até 1946,
quando encerrou a carreira. No ano de 1941, teve uma breve passagem pelo
Fluminense, mas logo retornou ao Botafogo. Em 1932, com apenas vinte anos, e
apesar da baixa estatura para a posição, já era considerado um dos melhores
goleiros do Brasil, o que o levou a defender a Seleção Brasileira em quatro
jogos, entre os anos de 1932 e 1940.
A carreira de técnico começou no Olaria (RJ), em 1947,
após cursar a Escola de Educação Física, no Rio. Outros times do Rio que dirigiu
foram Bangu, São Cristóvão, Botafogo e Flamengo – 20 jogos; no estado de São
Paulo, Portuguesa de Desportos – 206 jogos, Palmeiras – 193 jogos (campeão do
Torneio Roberto Gomes Pedrosa em 1967), São Paulo – 63 jogos, Corinthians – 56
jogos (campeão do Torneio do Povo em 1971), Taubaté e Ferroviária; em Minas
Gerais, América e Cruzeiro – 15 jogos; na Bahia, Vitória, Bahia, Catuense e
Galícia, onde encerrou a carreira. No exterior, foi técnico do Porto – 28
jogos, e o Boavista – 63 jogos, ambos de Portugal; na Grécia, comandou o
Panathinaikos.
Mas foi na Seleção Brasileira que teve a sua melhor
fase. Além do bicampeonato mundial em 1962, conquistou também a Copa Roca
(contra a Argentina), a Taça Rio Branco (contra o Uruguai), a Taça Bernardo
O`Higgins (contra o Chile) e a Taça Oswaldo Cruz (contra o Paraguai). Como
treinador da Seleção Paulista, conquistou os títulos de 1952/55/57 e 59. Na
Seleção foi treinador em três períodos – de 1961 a 1963, em 1965 e 1967. O seu
retrospecto como técnico da Seleção em jogos oficiais é o seguinte: 63 jogos,
38 vitórias, 9 empates e 16 derrotas.
Na Copa do
Mundo de 1970, no México, além de escrever uma coluna semanal para a revista
Placar, Aymoré atuou como olheiro de Zagalo. Foi o autor intelectual do quarto
gol brasileiro contra a Itália. Desenhou a jogada em um guardanapo, no hotel. O
time executou perfeitamente com a conclusão no petardo de Carlos Alberto. Um
gol inesquecível!
Aymoré tinha o apelido de “Biscoito” por uma
coincidência de nomes – no início de sua carreira, em 1930, como goleiro do
Sport Club Brasil, a Biscoitos Aimoré era a mais popular fabricantes de
biscoitos do Rio.
Ainda sobre a sua ligação com a cidade de Salvador, onde
era muito querido e respeitado – recebeu até o título de Cidadão Soteropolitano
– foi ali que escolheu fixar residência desde 1979. Por coincidência, encerrou a sua carreira
dirigindo um time baiano. Depois de aposentado dos campos, passou a escrever
artigos para jornais e trabalhou como comentarista esportivo de rádio. Quando veio a falecer, deixou a mulher, Neide,
e dois filhos, Sheila e Eder Moreira. Inclusive, o seu filho tentou seguir a
carreira de técnico, mas não teve a mesma sorte do pai. Chegaram a trabalhar
juntos, no ano de 1985, como técnicos da Catuense, onde o Eder dirigia o time
de juniores.
Nos dias 16 e 17 de janeiro, de 1993, os irmãos
Moreira foram homenageados pela Associação Atlética Miracema, recebendo o
título de “Sócio Benemérito” do clube. Ainda dentro das comemorações, fizeram o
ato de descerramento da placa que os homenageava com o nome “Irmãos Moreira”, o
estádio da Associação. Aymoré esteve presente acompanhado de seu irmão Zezé e
dos também desportistas, Ademir Menezes, o “Queixada”, e do então presidente da
Federação Carioca de Futebol, Eduardo Viana. Em 1995, retornou a Miracema, pela
última vez, para junto aos demais irmãos receber o título e a homenagem aos
“Miracemenses Ausentes”, na festa de aniversário de emancipação do município.
Nenhuma cidade do interior de nosso imenso Brasil,
teve a honra de possuir três grandes treinadores, dois que dirigiram a Seleção
Brasileira em Copas do Mundo – Zezé e Aymoré –, e acima de tudo, sendo irmãos,
como Miracema.
Deixo aqui uma mensagem às autoridades municipais e
aos órgãos competentes, que mesmo após suas mortes, que se faça uma homenagem
concreta a esses cidadãos que tanto fizeram pelo futebol brasileiro e levaram o
nome de nossa cidade por esse mundo da bola. As homenagens já recebidas em
vida, relatadas acima, ainda são pequenas. Os mais jovens precisam conhecer a
linda trajetória desses ícones. Não podemos deixar que o tempo apague o que
eles construíram em uma vida dedicada ao esporte.
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